Balanço final - Equipes brasileiras dominam a competição

 

Análise Final do Future Champions

Por Rafael Laerte Mendes Arruda

 

Com jogadores mais qualificados, equipes mais entrosadas, com melhor toque de bola e jogando em casa, o resultado não poderia ter sido outro: o Future Champions de 2010 foi totalmente dominado por equipes brasileiras. Atlético Mineiro, Cruzeiro e Vasco formaram o pódio da competição neste ano, com o Everton da Inglaterra fechando o grupo dos quatro primeiros colocados.

Desde o início da competição, já era explícito que alguma equipe do Brasil venceria o torneio. Atlético e Vasco classificaram em suas respectivas chaves com 100% de aproveitamento. Já o Cruzeiro desbancou o famoso Barcelona na primeira rodada, e também se garantiu na segunda fase do torneio de forma invicta.

Vasco dá show de bola na primeira fase


Foto tirada na partida entre Vasco x D.C. United na primeira fase. Créditos da imagem: Rafael Mendes

 

Quem se saiu melhor na primeira fase foi o Vasco. Não é à toa que o time carioca foi considerado o favorito ao título, após o término da primeira etapa do campeonato. Venceu todos os três jogos com folga - Paris Saint-Germain por 2 a 1; Everton por 3 a 1; D.C. United por 4 a 0 - e deu pinta de que levaria a taça.

A equipe jogava no 4-4-2 e atacava tanto pelo meio, quanto pelas laterais. Os dois alas do Vasco, Eduardo e Luquinha, eram muito ágeis e tinham um bom cruzamento. No meio, a equipe cruzmaltina contava com a consistência do volante e capitão Jonatas Paulista e a inteligência do armador Guilherme. E ainda tinha no ataque, a velocidade e a habilidade de Yago, e a excelente capacidade de finalização de Érick. Sem sombra de dúvidas, foi a equipe que praticou o futebol mais bonito de se ver na primeira fase.

 

Atlético bem no jeitinho mineiro de ser

Atlético 1x0 Everton - Semifinal do Future Champions

 

O Galo fez o básico na maioria das partidas do campeonato. Venceu os quatro primeiro jogos por um gol de diferença e levou a final contra o Cruzeiro para os pênaltis. Na primeria fase, não praticou um futebol convinvcente. Estreou contra a equipe do Mamelodi Sundowns e com muito custo, conseguiu um gol no final da partida, vencendo por 1 a 0.

Nos outros jogos, venceu a Universidad de Chile por 1 a 0 e o Barcelona por 2 a 1, mas poderia ter sido de mais. O time atleticano abusou das chances perdidas. Mas mesmo assim, conseguiu a classficação na primeira fase com 100% de aproveitamento. O Galo demosntrava bom toque de bola, volume de jogo e contava com boas atuações dos meias Yago e Dodô, que foram boas peças na armação de jogadas do time. Além disso, a presença do atacante Carlos no banco de reservas da equipe foi fundamental. Ele entrou no decorrer das partidas e deixou sua marca por duas vezes no torneio.

Pelo que vi do Atlético no início da competição, não apostaria minhas fichas em um possível título alvinegro. Mas o futebol é uma verdadeira caixinha de surpresas. O Galo foi comendo pelas beiradas e, sem ter uma atuação brilhante, conseguiu conquistar o título. Foi através de vitórias magras, por um gol de diferença, é que os atleticanos chegaram ao troféu. É por isso que, além do futebol bonito, é preciso também que a equipe tenha vontade, disposição, obediência tática e equilíbrio, para que esta possa conseguir as vitórias. E isso o Galo teve de sobra.

 

Cruzeiro e a sua regularidade

 

 

Em todas as partidas da competição, o Cruzeiro demonstrou ser um time regular. Com uma forte defesa, laterais apioadores, meio-campo consistente e ataque veloz, a Raposa só não chegou ao título por falta de sorte, pois o time mineiro criou chances perigosíssimas na final contra o Atlético e acabou as desperdiçando. Acabou jogando na cruel loteria das penalidades e levou a pior contra seu arquirrival. Mesmo assim, o Cruzeiro foi uma equipe regular, mostrando o mesmo estilo de jogo em todas as partidas.

O Cruzeiro funcionava tanto no 4-4-2 quanto no 3-5-2, já que contava com excelentes peças de reposição no banco de reservas. Quando a equipe entrava no 3-5-2, o meia Zé Paulo era substituído pelo zagueiro Wallace. Assim dava mais liberdade para que os laterais Hugo e Antônio atacassem mais, pois são alas bastante ofensivos. Principalmente o primeiro, que caía pelo lado direito juntamente com o atacante Pedro Paulo, fazendo boas tramas por aquele lado, e contando com a excelente presença de área do avançado Léo.

No meio, havia a inteligência e a maestria do camisa 10 Daniel. Ele fazia com que a bola rodasse para os dois lados do campo com grande facilidade, sempre com toques precisos e lançamentos calculados. Assim como o Vasco, o Cruzeiro também praticou um bom futebol na primeira fase e foi credenciado como um dos favoritos ao troféu.

 

Semifinal entre brasileiros: Cruzeiro deu um nó tático no Vasco

 

Sinceramente, eu não esperava que fosse desse jeito. Esperava mais da equipe do Vasco, devido ao seu fantástico desempenho na primeira fase. Mas na verdade, o que eu vi no confronto da semfinal contra o Cruzeiro, foram os jogadores do time mineiro colocando o Vasco na roda.

O Cruzeiro teve mais volume de jogo, mais posse de bola e finalizou mais. O placar de 2 a 0 foi pouco. Poderia ter sido mais elástico, principalmente nas chances criadas pelo time mineiro no primeiro tempo. O time mineiro demonstrou muito preciosismo e acabou desperdiçando várias oportunidades de gol. De quebra, ainda desperdiçou uma cobrança de pênalti, com o armador Daniel chutando para fora.

Na segunda etapa, a partida ficou mais calma e cadenciada por parte do time mineiro. Vi um Vasco desesperado, desorganizado e por muitas vezes afoito, na hora de construir suas jogadas. Isso se devia à forte marcação imposta pelo sistema defensivo cruzeirense. O zagueiro Dill ganhou praticamente todas as disputas contra o ligeiro atacante Yago. Foi uma verdadeira aula de posicionamento por parte da defesa do Cruzeiro, que no final saiu com a vitória. Resultado justíssimo e merecedor por parte da Raposa, pelo que fizeram no jogo. Foi a melhor exibição do Cruzeiro durante todo o torneio.

 

Clássico para fechar o torneio com chave de ouro

 

 Seja no profissional, juniores, juvenil, infantil ou mirim. Seja no futebol real, no video-game, em jogo de purrinha ou até mesmo em disputa de cara e coroa. Se falarmos de Cruzeiro e Atlético, todo mundo já se interessa. E ninguém gosta de perder clássico. Nem jogador, nem dirigente e muito menos o torcedor.

Costuma-se dizer que o jogo começa uma semana antes e termina uma semana depois. Sempre há aquelas famosas discussões nos bares, nos cafés, na rua, em casa ou no trabalho. Discussões como em lances polêmicos a favor ou contra, em gols feitos pelas equipes, falhas de posicionamento do time derrotado e elogios a quem fez os gols do time vencedor. E por fim, não posso deixar de citar as gozações direcionadas aos torcedores da equipe derrotada. Se todo mundo gosta de clássico, então não poderia ser de outra forma: Atlético e Cruzeiro decidiram o Future Champions 2010.

Como é de praxe em clássicos, tudo se igualou na decisão, não havia favorito. Nas arquibancadas, ligeira vantagem para a torcida cruzeirense em números. Mas na garganta, a torcida do Galo soltou a voz e gritou mais alto. Mesmo sabendo que o Cruzeiro tinha uma equipe mais qualificada e que teve melhor desempenho durante o torneio, preferi não dar favoritismo a nenhuma das duas equipes. Percebi que seria uma partida equilibrada e bastante corrida. As duas equipes entraram com muita vontade e aprontaram uma correria interminável. É fôlego de garoto. Todos os atletas estavam diante dos holofotes da imprensa, dos torcedores, dos familiares, das outras equipes e de muitos olheiros e empresários que acompanhavam a finalíssima. Ninguém queria perder. Cada um queria mostrar seu potencial, suas habilidades e seu valor. Isso contribuiu e muito, para que todos acompanhassem um belo espetáculo.

O Galo começou mais em cima, apertando a saída de bola do Cruzeiro. A Raposa entrou com um esquema tático diferente do habitual, o 3-5-2. Percebi a intenção do treinador Hamilton Mendes: ele queria dar mais liberdade aos laterais, que tiveram papel importante nas construções das jogadas dos gols feitos pelo Cruzeiro no decorrer do torneio. A zaga, que já era boa, ganhou mais um reforço: Wallace entrou jogando para fechar o trio defensivo do time celeste.

Já o Galo apostava muito nos meias Yago e Dodô. O primeiro é dono de bom passe e visão de jogo. O segundo era o principal responsável em articular as jogadas da equipe. O time alvinegro também contava com uma excelente defesa - principalmente com o zagueiro Donato - capitão e líder da equipe dentro de campo.

Foi uma pena que o jogo terminou sem gols no tempo normal. As redes poderiam ter balançado para ambos os lados. A chance melhor de cada equipe foi em tempos distintos. No primeiro tempo, o Cruzeiro assustou: a zaga celeste estourou a bola para frente e Léo acreditou na jogada. Ele disputou a bola com o arqueiro atleticano, levou a melhor e finalizou. A bola já estava em cima da linha, e o zagueiro atleticano Donato chegou por baixo, de carrinho, para fazer o corte providencial. A melhor chance do Galo foi no segundo tempo. Depois de falta cobrada na grande área, Yago subiu mais do que os defensores do Cruzeiro e testou a bola no travessão. O 0 a 0 estava premeditado, pois a bola não entrava.

Nos pênaltis o Galo foi mais competente. Converteu todas as cobranças, enquanto o Cruzeiro desperdiçou o seu terceiro remate com o jogador Cleverton. Muita festa e comemoração dos jogadores atleticanos. Venceram um torneio difícil e que contava com a presença de muitas das principais equipes do futebol mundial. A torcida fez muito barulho no Uni-BH. O Cruzeiro saiu de cabeça erguida, pois fez um bom jogo e gerou muita pressão aos atleticanos. Qualquer um que saísse campeão, seria merecido.

 

Considerações finais

Bom, para finalizar, confesso que foi uma grande disputa. Jogos que valeram a pena acompanhar e comentar. Todos os atletas se mostraram empenhados, sempre buscando a vitória. Atletas que daqui a três, quatro ou cinco anos, poderão estar fazendo sucesso pelo mundo do futebol, dando alegrias a várias torcidas e conquistando vários títulos.

Mas mais do que o título, o importante foi a confraternização. Dezenas de pessoas de culturas diferentes, de países distintos, convivendo juntos em um mesmo espaço, movidos pelo prazer de acompanhar e jogar futebol. Tiveram a grande oportunidade de poder trocar experiências e aprender coisas novas.

Acompanhando a final na Área Vip, que estava reservada para imprensa, jogadores e convidados, observei que atletas da Universidad de Chile e do Mamelodi Sundowns conversavam, brincavam e riam bastante uns com os outros. Mesmo falando idiomas completamente diferentes, eles conseguiam se entender pela linguagem universal do futebol. Não me contive, e também entrei no meio da roda por alguns instantes, falando o meu arranhado portunhol, para que pelomenos os jogadores da equipe chilena pudessem me compreender. Essa é a idéia: a confraternização. Gostei bastante de participar da cobertura do Future Champions. Uma experiência sensacional, vou carregá-la comigo para o resto da vida. Obrigado à toda a equipe, estamos de parabéns pelo excelente trabalho que fizemos! Abraço à todos.